domingo, 20 de dezembro de 2015

Idosa diz que Samarco exigiu laudo médico para comprar lavadora danificada

Idosa diz que Samarco exigiu laudo médico para comprar lavadora danificada

Carlos Eduardo Cherem
Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte
  • Thiago Alves/MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens)
    Cenita e Francisco Romualdo observam a máquina de lavar destruída pela lama
    Cenita e Francisco Romualdo observam a máquina de lavar destruída pela lama
Após perderem quase tudo na maior tragédia ambiental da história do país, um casal de idosos foi surpreendido ao solicitar que a indenização paga pela Samarco incluísse a máquina de lavar roupas que ficou danificada no tsunami de lama: a mineradora exigiu uma "prova" de que a idosa não conseguia "torcer a roupa" antes de autorizar a compra do eletrodoméstico.
Teófila Siqueira Pereira Romualdo, 69, a dona Cenita, e seu marido, o motorista de caminhão aposentado Francisco Marcelino Romualdo, 71, moram em uma casa de cinco cômodos no bairro do Morro Vermelho, em Barra Longa (MG).
Ele teve um AVC (acidente vascular cerebral) em 2006 e tem dificuldades para movimentar o braço esquerdo. Ela, no início da década de 2000, recebeu o diagnóstico de osteoporose.
Na madrugada de 6 de novembro, o casal estava dormindo quando começou o zum zum zum na cidade: a lama estava chegando. "Era mais de meia-noite quando a vizinha veio nos chamar para dizer que a enchente estava chegando", lembra Romualdo.
"Por volta de 4h, fui para a beira do rio do Carmo. Aí eu gritei: Cenita, isso não é água, é lama."
A lama chegou rápido e forte a Barra Longa naquela madrugada. O município de 6.200 habitantes, distante 60 quilômetros de Mariana e 172 quilômetros de Belo Horizonte, foi tomado pelo rejeito de pelotas de minério de ferro da barragem Fundão, da mineradora Samarco (uma joint venture da Vale com a empresa anglo-australiana BHP), e ficou parcialmente destruído.
Muitas residências foram tomadas pela lama. Na casa de Cenita e Romualdo, muita coisa ficou inutilizável, além da máquina de lavar.

Pedido do laudo médico

Na semana passada, de acordo com o casal, uma assistente social da Samarco visitou a casa no programa chamado pela mineradora de "Escuta Social" para apurar a situação das famílias vítimas da lama no município.
Foi aí que surgiu a exigência de um laudo médico para atestar que a idosa não tem condições físicas e de saúde para "torcer" roupas.
"A assistente social queria um laudo médico para provar que a Cenita não tem condições de torcer roupa", afirmou. "Perdi minha plaina, minha máquina de serrar tábuas. Uma mesa ficou tombada na lama e apodreceu", afirmou o motorista aposentado.
"Consegui salvar no quintal os patos, as galinhas e o cachorro. Mas a máquina [de lavar roupas] ficou toda danificada", afirma Romualdo. 
"Só depois que o pessoal do MAB [Movimento dos Atingidos por Barragens] reclamou, é que eles [a Samarco] vieram aqui. Ontem [quinta-feira], o menino da Samarco chegou aqui com uma máquina de oito quilos, mas minha mulher não aceitou. A nossa é de 15 quilos", disse.
De acordo com o membro da coordenação da seção mineira do MAB Thiago Alves, há diversos casos como o do casal, com dificuldades para provarem prejuízos materiais com o desastre.
"A exigência desse laudo médico foi ridícula, mas as perdas do que foi levado pela lama foram muito grandes e as pessoas não têm como comprovar algumas coisas", afirmou Alves.

Enfim, a máquina!

No fim da tarde desta sexta-feira (18), por volta de 17h, a Samarco informou que a empresa providenciou a compra de uma máquina de lavar roupa com capacidade para 15 quilos para o casal.
"A empresa já providenciou a compra do eletrodoméstico que foi solicitado por meio da escuta social --processo de diálogo realizado por assistentes sociais--, para a população atingida pelo acidente com a barragem", disse a mineradora.
Cenita confirmou neste sábado (19) que recebeu por volta de 21h do dia anterior a nova máquina de lavar roupas, agora com capacidade para 15Kg. "Até achei estranho, entregar a máquina à noite", diz a dona de casa.
No varejo brasileiro, uma máquina de lavar de oito quilos têm preços variando entre R$ 800 e R$ 1.200. Já as máquinas com capacidade de 15 quilos têm os valores entre R$ 1.400 e R$ 2.000.
"Não é igualzinha à antiga porque o bojo da minha era de inox e me enviaram uma com bojo de plástico. Falaram que não estavam encontrando a de inox", afirmou.
Sobre a exigência de que a dona de casa provasse sua incapacidade para "torcer" roupa para ser indenizada, a companhia disse que não iria se manifestar.
Leia mais em: http://zip.net/bhszrg

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Sob FHC, também houve ‘corrupção organizada’

Em depoimento à força-tarefa da Lava Jato, o petrodelator Nestor Cerveró disse que Delcídio Amaral recebeu propinas de US$ 10 milhões quando era diretor de Óleo e Gás da Petrobras, no governo FHC. Incomodado, Fernando Henrique Cardoso subiu no caixote do Facebook para gritar: “Se houve algo durante o meu governo, foi conduta imprópria do Delcídio, não corrupção organizada, como agora.'' Hummm… Não é bem assim.
Os fatos demonstram que o petismo realmente exagerou. Enxergou o poder como um favo de mel. Enfiou os dedos. Lambeu-os com gosto. Por algum tempo, desfrutou de todas as dádivas do mundo. Hoje, foge das abelhas. Mas FHC sabe que a corrupção no seu governo não foi ocasionada pela conduta imprópria de personagens obscuros. Apenas para refrescar a memória do ex-presidente tucano, cabe citar o caso Sudam.
Sob FHC, quem dava as cartas na Sudam era Jader Barbalho (PMDB-PA), hoje um aliado do petismo. No auge do escândalo, que terminou com a cassação do mandato do personagem, Jader contratou a consultoria Boucinhas & Campos para provar que seu patrimônio pessoal não era de R$ 30 milhões, como se noticiava. Tinha razão. A Receita Federal descobriria depois que essa cifra correspondia apenas à multa devida por Jader. O patrimônio era maior.
À Receita, Jader alegou que sua prosperidade resultava sobretudo do suposto êxito que obtevera como agronegociante. Para o fisco, o sucesso estava escorado em informações falsas. Minuciosos, os auditores chegaram a bater à porta de supostos compradores de gado da Fazenda Rio Branco, de Jader.
Entre as imposturas corroboradas pelo Fisco estava a hipotética compra, em 1998, de uma fazenda no Pará. Pertencia a José Osmar Borges, a quem Jader teria pago R$ 600 mil, em três parcelas. Os auditores não encontraram vestígio do trânsito do dinheiro. Ou seja, Jader teria recebido a propriedade de presente. O mimo media 6 mil hectares.
Dono de três CPFs, controlador de seis empresas, Osmar Borges foi acusado de desviar mais de R$ 100 milhões em incentivos fiscais da Sudam. Boa parte liberada por afilhados de Jader, que FHC acomodora barbalhamente nos fundões da administração tucana.
Se a memória lhe falhar, FHC pode tocar o telefone para o governador do Mato Grosso, Pedro Taques. Recém-filiado ao PSDB, Taques era, na época da gestão tucana, procurador da República. Ajudou a varejar a Sudam. Jader, por Barbalho, chegou a ser algemado e preso. Passou poucas horas na cadeia. Eram tempos pré-Sérgio Moro. Até por isso, a corrupção organizou-se.

domingo, 6 de dezembro de 2015

Ciro Gomes acusa Temer de ser 'capitão do golpe' contra Dilma

O ex-ministro Ciro Gomes (PDT), que quer sair candidato à Presidência em 2018
O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) acusou neste domingo (6) o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB) de ser o "capitão do golpe" do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, deflagrado na semana passada na Câmara dos Deputados. A acusação foi feita durante entrevista coletiva no Palácio dos Leões, sede do governo maranhense, em que Gomes, ao lado do presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, e do governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), saiu em defesa do mandato da presidente Dilma Rousseff.
"Perguntem qual é a opinião do Michel Temer, vice-presidente da República, sobre o fato de seu companheiro, amigo, parceiro, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ter contas na Suíça, ser denunciado por crime de formação de quadrilha, de roubo do dinheiro público. Ele não tem uma opinião. Por quê? Porque é íntimo parceiro. E não por acaso o beneficiário imediato dessa ruptura da democracia e dessa imensa e potencial crise para 20 anos. É ele mesmo o senhor Michel Temer, o capitão do golpe", afirmou Gomes.
O ex-ministro da Integração Nacional do governo Lula afirmou que o processo de impeachment tem sido tocado por um "grupo de mafiosos" que estão se utilizando de "protocolos formais" para derrubar a democracia brasileira. Para ele, o "golpe" não tem sido orquestrado apenas pelo PMDB, mas por grupos internacionais de interesses conservadores e reacionários que "cobiçam o petróleo brasileiro". Nesse contexto, Ciro defendeu que é preciso "engolir" os "abusos" do governo atual, em nome da preservação da democracia.
"Três anos de um governo que a gente não gosta passam num piscar de olhos", afirmou. "Mas isso nos aponta para segunda grande tarefa: exigir, pedir, suplicar que a presidenta Dilma se reconcilie com valores e grupos sociais que lhe deram a vitória. Porque a sensação grave hoje entre nós é de que fomos enganados. A sociedade esperava uma coisa, ouviu dela uma proposta, e temos a sensação de que estamos recebendo exatamente o oposto", emendou.
Na coletiva, o presidente nacional do PDT lançou a pré-candidatura de Ciro à Presidência da República em 2018. Lupi afirmou que o ex-ministro é o político "mais preparado" e "mais habilitado" para a função. O dirigente fez questão de ressaltar que o lançamento da candidatura não é uma "oportunidade eleitoral". Prova disso, ressaltou, foi a defesa que ele, Ciro e Dino fizeram contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff durante a entrevista. "Não estamos defendendo a presidente Dilma por conveniência", ponderou.
Ciro Gomes não comentou o lançamento da pré-candidatura durante a coletiva de imprensa. Em entrevistas recentes, contudo, o ex-ministro já tinha dado sinais de que quer ser candidato à sucessão da presidente Dilma Rousseff em 2018. Caso a candidatura se confirme, será a terceira vez que Gomes disputa o comando do Palácio do Planalto. Ele foi candidato à presidente da República em 1998 e 2002, terminando em terceiro e quarto lugar na disputa, respectivamente.

Prova

Na entrevista deste domingo, Flávio Dino destacou que a instauração do processo de impedimento de Dilma é "golpe", pois não tem base constitucional. Ele lembrou que as chamadas "pedaladas fiscais" foram cometidas em 2014, no primeiro mandato da presidente e que sequer ainda foram julgadas pelo Congresso Nacional. O governador lembrou ainda que, ao aprovar o Projeto de Lei do Congresso (PLN) que alterou a meta fiscal, os parlamentares deram "prova" de que não querem o impeachment e mostraram que há espaço para diálogo sobre o assunto.
O presidente nacional do PDT, por sua vez, afirmou que o processo de afastamento de Dilma é uma tentativa de rasgar a Constituição de 1988. Para ele, Eduardo Cunha não tem legitimidade para deflagrar o processo, por ser alvo de investigação por envolvimento nos esquemas de corrupção da Petrobras e por ter contas não declaradas na Suíça. Para Lupi, apesar de o País passar atualmente por uma situação "grave", o "ódio não pode ser maior do que o Brasil".

Processo

O processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff foi deflagrado na última quarta-feira pelo presidente da Câmara. No parecer, o peemedebista usa como base para autorizar o processo as "pedaladas fiscais" e a abertura de créditos suplementares em 2015 sem autorização do Congresso, que, segundo ele, ferem a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Nesta segunda-feira (7), deputados deverão eleger os 65 membros da comissão que dará parecer sobre o processo na Câmara.
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Da reeleição ao pedido de impeachment, veja cronologia da crise política28 fotos

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26.out.2014 - A presidente Dilma Rousseff (PT) é reeleita na disputa mais acirrada da história e comemora ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma festa para a militância em Brasília. Ela derrotou Aécio Neves (PSDB) no segundo turno Leia mais Pedro Ladeira/Folhapress
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