sexta-feira, 19 de agosto de 2016
quinta-feira, 18 de agosto de 2016
Professor Pasquale Cipro Neto: Presidenta é correto, Carmen Lúcia
Na sessão de 10.ago, o atual presidente do STF disse o seguinte : “Então eu concedo a palavra à eminente ministra Cármen Lúcia, nossa presidenta eleita… Ou presidente?”. A resposta da ministra foi esta: “Eu fui estudante e eu sou amante da língua portuguesa, eu acho que o cargo é de presidente, não é não?”. ‘Data venia’, Excelência, o cargo é de presidente ou presidenta.
Essa questão atormenta o país desde que Dilma Rousseff venceu a primeira eleição e disse que queria ser chamada de “presidenta”, porque, para ela, a forma feminina acentua a sua condição de mulher, a primeira mulher a presidir o país.
Esse argumento me parece frouxo e um tanto infantil. O que acentua o fato de Dilma ser mulher é justamente o fato de ela ser mulher, mas respeito a escolha dela e os que acham justo esse argumento.
O que não se pode, de jeito nenhum, é ditar “regras” linguísticas totalmente desprovidas de fundamento técnico, mas foi justamente isso o que mais se viu/ouviu/leu desde que Dilma manifestou a sua preferência por “presidenta”, forma que não foi inventada por ela.
Na bobajada que se lê na internet, o argumento mais frequente é justamente o da inexistência de “serventa”, “adolescenta” etc., como se a língua fosse regida unicamente por processos cartesianos.
Não é, caro leitor. Se assim fosse, não teríamos como fatos consagrados inúmeros casos que nem de longe seguem a lógica. Ou será que no padrão culto se registra algo como “Fulano suicidou”? Pela “lógica”, seria essa a forma padrão, mas…
A língua não funciona assim. Um exemplo: às vezes, o falante não tem noção histórica da formação de um termo e acrescenta algo que “ressuscite” o seu sentido literal. É isso que explica, por exemplo, a pronominalização de “suicidar” (“Ele se suicidou”, “Tu te suicidarias?”). O verbo não é “suicidar”; é “suicidar-se”. Pode procurar no “Houaiss” etc.
A terminação “-nte”, que vem do particípio presente latino, forma (em português e em outras línguas) adjetivos e substantivos que indicam a noção de “agente” (“pedinte”, “caminhante”, “assaltante”).
99,9999% desses termos não têm variação; o que varia é o artigo ou outro determinante (o/a viajante, o/a estudante, nosso/nossa comandante), mas é claro que há exceções.
Uma delas é justamente “presidenta”, registrada há mais de um século. Na sua edição de 1913, o dicionário de Cândido de Figueiredo registra “presidenta”, como “neologismo”. Um século depois, esse “neo-” perdeu a razão. A edição de 1939 do “Vocabulário Ortográfico” registra o termo. A última edição de cada um dos nossos mais importantes dicionários e a do “Vocabulário Ortográfico” também registram.
Deve-se tomar muito cuidado quando se usa como argumento o registro num dicionário. Nada de dizer que “a palavra existe porque está no dicionário”; é o contrário, ou seja, a palavra está no dicionário porque existe, porque tem uso em determinado registro linguístico.
Tenho profundo respeito pela ministra Cármen Lúcia, não só pela liturgia do cargo, mas também e sobretudo pela altivez com que o professa. Justamente por isso, ouso dizer que teria sido melhor ela ter dito simplesmente “Prefiro presidente”.
Aproveito para lembrar que não tenho feicibúqui, tuíter, instagrã etc., portanto toda a bobajada internética a mim atribuída é falsa. É isso.
(Pasquale Cipro Neto – Folha de São Paulo)
domingo, 14 de agosto de 2016
sexta-feira, 12 de agosto de 2016
PRESIDENTE OU PRESIDENTA?
Quem sabe que a palavra Presidenta não é incorreta desde 1872 é analfabeto?
Incorreto é ministro do STF ficar de faniquito em cima de alienação da Globo, pois taxar quem usa a palavra presidenta como analfabeto é sim uma estratégia global para causar antipatia contra o PT e quem quer que tenha escolhido acatar o pedido da presidenta Dilma.
No entanto, a declaração de Carmen Lúcia vai muito além do simples mimimi, pois o que ela de fato admite com isso é que ela também foi alienada pelo canto da sereia global. Por mais merecida que tenha sido sua nomeação para o Supremo Tribunal Federal, até o mais inteligente dos mortais ainda é suscetível à propaganda.
Um juiz de respeito não daria trela para esse tipo de provocação, esta sim, estapafúrdia, de jornalistazinho medíocre - porque para fazer uma perguntinha ridícula dessas, só sendo muito meia-boca mesmo!
Mas o mais estapafúrdio mesmo é ela responder com outra provocação, desta vez contra os 54 milhões de brasileiros que votaram em Dilma e, acredita-se por dedução, que apoiem o uso do termo presidenta, a maioria deles, inclusive, sabendo que o termo está no dicionário desde 1872, tendo sido usado inclusive por Machado de Assis, a quem a amante da língua portuguesa parece desconhecer...
Apesar da banalidade do tema, seus desdobramentos vão além do fato em si, demonstrando o alinhamento ideológico da futura presidente do STF, o desprezo pelos mais pobres e os que não tiveram acesso à educação (ponto central do apartheid brasileiro estabelecido desde a colonização e jamais questionado), o desprezo pela ética que cabe ao cargo que ocupará, pela escolha da maioria dos eleitores brasileiros e pelo direito de Dilma escolher o termo no feminino, concordando com um dos maiores escritores do Brasil e da língua portuguesa.
Questionar o direito de um juiz se comportar como um adolescente revoltado não é algo estapafúrdio, é fundamental para o amadurecimento das nossas instituições e daqueles que lá trabalham.
terça-feira, 9 de agosto de 2016
domingo, 7 de agosto de 2016
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