O cardeal arcebispo de São Paulo,
Odílo Scherer, foi atacado durante uma missa na Catedral da Sé, na manhã de
quarta (23), por uma mulher que o acusou de ser um comunista infiltrado na
Igreja Católica. Aos gritos ela dizia: “Você e a CNBB [Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil] são comunistas infiltrados; não podem fazer isso com a minha
Igreja’’”. Depois avançou sobre ele, arrancou sua mitra, derrubando-o no chão e
arranhando seu rosto. As informações são de Laura Capriglione e Mauro Lopes,
dos Jornalistas Livres.
Odílo levantou-se com a ajuda de
outras pessoas e seguiu caminhando e abençoando os presentes na catedral.
A agressora apresentava evidentes
sinais de transtornos emocionais. Ela também reclamou de que a Igreja Católica
tratava demais de reformas agrárias e política ao invés de reformar a própria
instituição.
Odílo Scherer, apesar de já ter
sido criticado por pessoas que enxergam comunistas em Sucrilhos, não pertence à
Teologia da Libertação. Essa corrente da Igreja Católica interpreta o evangelho
no sentido da libertação da injustiça e da desigualdade social, prega a opção
pelos pobres e conta com inspiração marxista.
Poderíamos alegar que a mulher
que atacou o cardeal, transtornada, nem sabia o significado do que falava.
Poderíamos. Mas, infelizmente, esse tipo de ataque se tornou rotina. E o
conteúdo do que ela falou tem sido repetido à exaustão nas ruas, nas redes
sociais, nos veículos de comunicação.
Quem plantou esse discurso em sua
cabeça? E quem plantou a ideia de que alguém que defende o comunismo é
demoníaco e merece apanhar?
Todos que ajudaram a inflar a
estúpida, ignorante, irresponsável e vazia suposição de que o país vive, há
anos, um “golpe comunista’’, ou se omitiram diante disso, têm uma parcela de
culpa no show de horrores, de vergonha alheia e de violência que vamos começar
a presenciar com frequência por aqui”. O governo brasileiro não é comunista e,
infelizmente, nem de esquerda – apesar de querer se auto intitular como tal,
talvez para recolher apoio de parte da sociedade que acreditou em suas
promessas de campanha.
O pior é que os insufladores nem
precisam ir a público cometer agressões contra quem usa a cor vermelha em
roupas, bicicletas ou bolsas. Da mesma forma que não é a mão de religiosos,
blogueiros ou deputados que seguram a faca, o revólver ou a lâmpada
fluorescente que atacam gays e lésbicas. Mas são eles que, muitas vezes, na
busca por audiência ou para encaixar um fato em sua visão de mundo, tornam a
agressão banal, quase uma necessidade para restabelecer a ordem das coisas. Uma
ação divina que será cumprida pelas “pessoas de bem’’”.
Por isso, quero deixar os meus
parabéns.
Parabém a você, irresponsável,
que veicula ignorância e estupidez pelas redes sociais. Que divulga informações
equivocadas, muitas delas com potencial para gerar violência – física ou
simbólica. Que desinforma com o objetivo de criar um exército de zumbis.
Parabéns aos veículos de
comunicação que insuflam o Fla-Flu político sem se preocupar que muitos de seus
consumidores não foram formados para serem leitores, ouvintes e
telespectadores. E acreditando em tudo o que recebem, sem senso crítico ou
filtragem considerando a linha editorial, pensam que estão sendo municiados
para uma guerra.
Parabéns também aos outros tantos
que sabem que tudo isso acontece, mas preferem ficar dentro de sua bolha na
rede social, achando que o mundo lá fora é a barbárie e tudo o que você precisa
está no seu bar, no seu clube ou nos seus grupos de amigos praianos. Pois a
ignorância coletiva precisa, para se reproduzir, do silêncio dos que têm
consciência, mas não falam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário