SOROCABA - Terceiro vereador mais
votado no domingo, 2, em Assis, no sudoeste paulista, com 1.275 votos, o
catador de recicláveis Nilson Antonio da Silva, o Nilson Pavão (PMDB), já
enfrenta um dilema. Ele quer comparecer ao trabalho, na Câmara local, levando
seu companheiro inseparável, o cachorro 'Pretinho'. O que o novo vereador
espera é que a direção do Legislativo permita que o cão ao menos acompanhe as
sessões. "Ele é minha única família aqui e muitas pessoas votaram em mim
porque gostam dele", disse.
Na cidade de 102 mil habitantes
onde trabalha nas ruas há 20 anos, catando papelão, latinhas de cerveja, PET e
outros materiais recicláveis, o agora vereador é mais conhecido como o 'Nilson
do cachorro'. "É difícil, se não impossível, encontrar o Nilson sem o
'Pretinho'. Onde vai, ele leva o cachorro, ou o cachorro leva ele", brinca
o taxista José Honório.
Nilson tem 62 anos, ensino
fundamental incompleto e trabalha na Cooperativa de Materiais Recicláveis de
Assis e Região (Coocassis), o que garante renda de um salário mínimo mensal.
Ele disse que ficou surpreso com o resultado. "Esperava ter uns 700 votos,
mas não ficar entre os mais votados. Acho que tenho mais amigos do que
imaginava. O povo gosta de mim", disse.
Quando ocupar uma das 15 cadeiras
do Legislativo, o catador passará a receber R$ 4,2 mil por mês, mas ele vai
doar metade do salário em cestas básicas para famílias carentes, como prometeu
na campanha. Outra promessa é criar um espaço para animais abandonados, o que
lhe valeu muita ajuda pelas redes sociais. "Sou muito apegado aos animais
e o vice-prefeito é veterinário, então acho que vai dar certo. Vamos pedir que
a prefeitura ceda uma área que não está sendo usada e fazer um local com
bastante estrutura para que não haja abandono."
Ele quer também trabalhar por
melhorias na saúde das pessoas. "Conheço bem a realidade do SUS (Sistema
Único de Saúde), pois já peguei muita fila. Algumas unidades precisam ficar
abertas dia e noite." Nilson já foi caminhoneiro e, depois de se afastar
da família em outro Estado - um assunto que evita - passou um período vivendo
nas ruas. Ele conta que dormia em postos de gasolina, borracharias ou passava a
noite em abrigos. Agora, tem uma pequena casa no bairro Santa Clara.
O vereador eleito não tem
telefone fixo, nem celular. Ele teve a ideia de se candidatar depois que um
amigo de infância se tornou vereador e prefeito. "Não sabia por qual
partido, mas achei um papelzinho do PMDB na rua e procurei o partido para fazer
a filiação." Nilson acredita que não foi eleito pelo voto de protesto.
"Votaram em mim porque trato bem as pessoas e não tenho medo de lutar
pelas coisas."
O presidente da Cooperativa de
Materiais Recicláveis de Assis e Região (Coocassis), André Lemes, disse que os
cooperados votaram em peso no colega. "Ele é trabalhador, pode ajudar a
cidade." Sua eleição repercutiu nas redes sociais. "Muitos julgam
pelas roupas, mas o que importa é o caráter", postou a auxiliar de
enfermagem Maria Barbosa. "Muita gente tem faculdade e dinheiro, mas não
tem um pingo de respeito com os próximos. Os projetos (dele) são ótimos",
escreveu Valdemir Candido. "Ele já conseguiu nos surpreender por desbancar
uns letrados que estavam só mamando nas tetas do município", postou Marcos
Leal, também morador da cidade.
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