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O Inocente |
O ex-presidente Lula da Silva não
aceita ser julgado pelas cortes do Judiciário, mas somente pelo tribunal da
história. Diante da iminência de ter de esclarecer, sob juramento, por que
recebeu tantos favores de amigos empreiteiros e por que, sob seu governo,
nasceu e floresceu o maior esquema de corrupção da história do País, o chefão
petista, na falta de uma resposta plausível a essas questões, pretende
convencer o País de que seu caso é parte de um ataque generalizado às
“conquistas sociais” que o período petista supostamente protagonizou. Ou seja,
Lula quer ser visto não como um cidadão com direitos e deveres como todos os
demais brasileiros, e sim como a encarnação dos pobres em geral, de modo que
obrigá-lo a prestar contas à Justiça seria o equivalente a criminalizar os
menos favorecidos.
Nem é preciso enfatizar o quanto
de autoritário há nesse pensamento. Os piores ditadores da história
contemporânea tinham como estratégia confundir-se com o povo, transformando
todos aqueles que pretendiam fazê-los responder por seus crimes em “inimigos do
povo”. Além disso, colocavam-se acima e além das instituições. Houve época em
que até se faziam adorar como deuses. Mais modesto, Lula tem-se limitado a
exaltar a pureza cristalina de sua alma. Ele, que nunca foi exatamente um
democrata, parece ter decidido enveredar de vez por esse caminho autoritário,
que ofende as instituições democráticas, como se estas estivessem a serviço de
conspiradores hostis aos pobres e desvalidos.
Talvez desesperado ante a
perspectiva cada vez mais real de ser preso e enfrentar o frio da carceragem de
Curitiba, do qual se queixou o deputado cassado Eduardo Cunha, Lula mandou seus
amigos criarem um movimento nacional para defendê-lo. Conforme reportagem do
Valor, os petistas acreditam que não basta responder aos processos nos
tribunais – Lula é réu em três ações penais. Para eles, é preciso defender
também seu “legado”, por meio de uma campanha que inclui a criação de comitês
estaduais pró-Lula.
Nem mesmo a reconstrução do PT –
que depois de ter sido massacrado nas eleições municipais corre o risco de
sofrer uma debandada de parlamentares e enfrenta uma feroz luta interna de
chefetes que disputam seus caquinhos – tem precedência sobre o mister de salvar
Lula da cadeia. Gilberto Carvalho, boneco de ventríloquo do chefão petista,
mandou avisar: “Antes de nos preocuparmos com a sucessão no PT, temos de nos
mobilizar em defesa do Lula”.
Nessa mobilização, Lula, como
sempre faz quando se sente acuado, prometeu percorrer o País, “mas não em sua
defesa pessoal, e sim na dos direitos que ajudou a conquistar e que o atual
governo quer extinguir”, explicou o ex-ministro Gilberto Carvalho, que articula
a campanha. “Além do processo de criminalização do Lula e do PT, há um
movimento para retirar direitos da população”, disse Carvalho.
Com isso, está dada a senha para
ligar a defesa de Lula à defesa dos pobres, como se aquele e estes fossem uma
coisa só. A estratégia é dizer, na forma de slogans, que “justiça para Lula” é
o mesmo que “justiça para todos”. Na mesma linha, segundo planejam os
marqueteiros, os simpatizantes do chefão petista sairão às ruas bradando, ao
mesmo tempo, “tirem as mãos dos nossos direitos” e “tirem as mãos de Lula”.
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