Por Carlos Brickmann em 10/06/2014 na edição 802
Cuidado: ter milhares de seguidores no Facebook é como ficar rico no Banco Imobiliário. Se dezenas de milhares de pessoas confirmarem presença numa manifestação, nas redes sociais, isso quer dizer que meia dúzia vai aparecer – e, dessa meia dúzia, dois ou três estarão interessados em conhecer pessoalmente algum famoso que jurou que compareceria e, naturalmente, não compareceu.
Rede social, então, não tem qualquer importância? Tem, claro: funciona como fábrica de consensos. Alguém publica que o presidente Barack Obama é loiro de olhos azuis, e escurece a pele com cosméticos para fazer marketing, e a mensagem é repetida por robôs – robôs de verdade ou apenas pessoas que só não são robôs por falta de raciocínio – até a exaustão, até que haja alguém convencido de que Obama usa até lentes de contato para ficar com olhos cor de jabuticaba. Não dá muito trabalho e é barato, já que os robôs, tanto os de verdade quanto os humanos, estão dispostos a esfalfar-se e não custam quase nada. Mas rede social também tende a enganar quem a utiliza, e que imagina que, repetindo milhares de vezes o mesmo mantra a milhares de pessoas, passa a ser dono da verdade.
Há outro risco: na busca da superioridade virtual, candidatos a cargos eletivos correm riscos de fazer bobagem e perder votos reais, além de ter problemas com a lei. Publicidade virtual é barata, mas as multas, embora baixas, são em dinheiro real.
Casos recentes:
1. Daniel Graziano, gerente administrativo do Instituto Fernando Henrique Cardoso, filho de Xico Graziano, coordenador de Mídias Sociais do PSDB, está sendo investigado pela suspeita de ter participado da difusão de boatos infamantes sobre Fábio Luís Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula.
2. Há investigações sobre o caso Letrinhas, sobre ataques difamatórios sofridos pelo candidato tucano Aécio Neves. Duas pessoas fictícias, Letrinhas e Naldinho Silva, publicavam boatos infamantes sobre o candidato. Imediatamente, as mensagens eram republicadas milhares de vezes, de maneira organizada (poucos segundos após a difusão do boato original).
3. A revista IstoÉ revelou que funcionários da prefeitura de Guarulhos, controlada pelo PT, utilizam instalações e equipamentos oficiais para atacar a imagem do candidato Aécio Neves. Por determinação da Justiça, os provedores de internet foram obrigados a informar de que computadores saíam os ataques; e chegaram a vários funcionários de importância da Prefeitura petista. As mensagens não se limitavam à posição política de Aécio: seu ponto principal era o ataque pessoal, pesado. De acordo com IstoÉ, havia também repasses de verbas publicitárias da prefeitura de Guarulhos para publicações virtuais de militantes petistas (em duas das publicações há anúncios da prefeitura, ao lado dos ataques ao senador tucano; em ambos os casos, os editores dizem que não há relação entre a publicidade e os ataques, que ocorreriam por sua convicção pessoal).
4. O blog Dilma Bolada, dilmista desde criancinha, descobriu (e gravou as mensagens) que a equipe do candidato socialista à Presidência, Eduardo Campos, estava comprando imensas listas de seguidores para suas páginas no Facebook. Sim, isso existe e o negócio é próspero. O que não existe são os seguidores, em geral perfis criados artificialmente apenas para esse tipo de venda. Mas dá a impressão, para quem não entende do assunto, de que há muita gente favorável ao candidato, e muito entusiasmada. O problema é que daqui a poucos meses é preciso mostrar documentos para votar; e o que é só virtual se desmancha no ar.
São quatro exemplos, apenas, entre dezenas. Mas servem para mostrar como é que a comunicação anda funcionando no país: apresentando fumaça, para aparentar que há algo fumegante. Na hora em que se faz a clássica pergunta de Alex Periscinotto, um dos grandes nomes da publicidade brasileira – “Where is the beef?” (em tradução livre, cadê a carne?) – a espuma se desmancha na areia.
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