
Criaturas de Santana
POR MÍRIAM LEITÃO. 28/02/2016
Era forte, muito forte o
sentimento de que estavam protegidos pela capa da impunidade. Só isso explica
João Santana e sua mulher, Mônica Moura. Eles trabalharam em campanhas
presidenciais, usaram técnicas agressivas de publicidade e mantiveram contas
secretas no exterior, onde receberam recursos de empresas e lobistas. Isso,
depois de Duda Mendonça ter admitido que assim é que o PT lhe pagava.
Este não é o primeiro grande caso
de corrupção investigado no Brasil. O Mensalão colocou o ex-chefe de Santana
diante de uma CPI e da Justiça. Duda escapou do pior, mas ajudou a revelar o
esquema. Disse que foi forçado pelo PT a abrir uma offshore para receber parte
do dinheiro. Admitiu o caixa dois e pagou a multa.
De lá para cá, o país está
claramente dobrando sua aposta no combate à corrupção através do Ministério
Público, da Justiça e Polícia Federal. A Lava-Jato tem métodos e ação mais
precisos, mais elaborados. Santana e Mônica acham que poderão se livrar com a
estratégia de admitir alguma coisa para perder os anéis e ficar com os dedos.
Eles reconhecem a existência de contas no exterior não declaradas, mas Santana
diz que não sabe quem depositou nessa conta e seu advogado corrobora: “ele é um
criador.”
Na Pólis de Santana e Mônica, as
criaturas não tinham limites. Elas podiam subestimar a inteligência alheia,
manipular os sentimentos, mentir sobre adversários e escamotear a crise que
agora nos consome. As criações de João Santana fizeram mal ao país e à
democracia brasileira, mas isso não levaria o casal à prisão. Revela, contudo,
a arrogância e a sensação de impunidade que tinham. Ele fez tudo isso, enquanto
dinheiro duvidoso era depositado por lobista e por empreiteira em uma de suas
contas. A planilha da Odebrecht divulgada pela “Época” indica que pode ter
havido ligação mais direta. Santana orientava Dilma Rousseff a mentir em
debates e entrevistas, vivia na intimidade do poder como conselheiro político
mesmo após as eleições, enquanto tinha seis contas não declaradas no exterior.
Em novembro passado, diante dos avanços da Lava-Jato, fez uma declaração
retificadora na Receita admitindo cinco contas, mas não a que recebeu o
dinheiro de Zwi Skornicki e da Odebrecht.
O que contaram Santana e Mônica
nos depoimentos é risível. Receberam no exterior porque trabalharam no exterior,
não trouxeram o dinheiro, mas pretendiam fazê-lo, receberam caixa dois, mas
nunca no Brasil, e sim em suas campanhas presidenciais em outros países. Mônica
cuidava de toda a parte administrativa e financeira, a tal ponto que o
distraído criador nem sabe dizer quanto e quem lhe pagou. A estratégia clara é
admitir crimes menores para se livrar da cadeia e também proteger a presidente
Dilma Rousseff e seu mandato.
No exterior, eles trabalharam
para presidentes como Hugo Chávez e José Eduardo dos Santos e por essas
campanhas admitem caixa dois. O que liga os dois políticos é a prática
antidemocrática. José Eduardo do Santos é presidente desde 1979, seu governo é
uma ditadura corrupta que faz eleições para encobrir seu caráter autoritário.
Sua filha Isabel dos Santos é considerada a mulher mais rica da África, com
fortuna avaliada em US$ 3,7 bilhões pela revista “Forbes”. Sua riqueza tem
relação direta com o ambiente de corrupção instalado pelo governo para o qual
João Santana trabalhou. Hugo Chávez tinha, como todos vimos, a decisão de se
eternizar no poder, golpeando as instituições. Ele morreu, mas deixou seu
ectoplasma que governa o país rumo à ruína.
Pela versão das primeiras horas
após a prisão, eles aceitaram dinheiro de origem duvidosa, mas só no exterior.
No Brasil, tudo foi feito dentro da lei. Uma delinquência com limites
geográficos. No início da campanha, ele concedeu uma entrevista ao jornalista
Luiz Maklouf na “Época”, em que disse que a presidente Dilma ganharia fácil no
primeiro turno, enquanto haveria com os outros candidatos uma “antropofagia de
anões”, e explicou: “eles vão se comer lá embaixo e ela, sobranceira, vai
planar no Olimpo”. A história não foi assim, houve segundo turno, mas o que o
país quer saber agora é o que aconteceu no Olimpo. Ele diz de si mesmo que tem
ideias muito rápidas. Agora é a hora de mostrar isso, mas que a ideia seja
crível, porque os velhos truques não funcionam mais. O país está mudando.
E eu me pergunto: O que fazer com as verdades atômicas que conheci ao longo de uma jornada inglória pelos corredores e escaninhos inferiores e superiores do Tribunal de Justiça de Minas Gerais? O que fazer com as que conheci no âmbito da "política municipal"e do "Fórum da Justiça" de Raul Soares?
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