domingo, 28 de fevereiro de 2016

O físico que fascina João Santana


João Santana e sua mulher e sócia, Mônica Moura, são presos pela PF

O físico italiano Ettore Majorana sempre fascinou o marqueteiro João Santana, preso na semana passada pela Operação Lava Jato (foto). “Tenho uma relação misteriosa e cotidiana com ele”, disse João Santana sobre Majorana, num perfil publicado em 2013 pela revista Época. Majorana foi uma mente genial, capaz de compreender a estrutura do núcleo atômico antes do alemão Werner Heisenberg, embora um misto de modéstia e timidez o tivesse impedido de publicar o resultado. Seu mentor e professor, o também italiano Enrico Fermi, o considerava um gênio à altura de Galileu Galilei, Isaac Newton ou mesmo Einstein. Majorana também é um mistério insolúvel.
Em março de 1938, ele sumiu depois de comprar uma passagem de barco de Palermo, na sua Sicília natal, a Nápoles, onde fora recentemente contratado para lecionar física na universidade. Embora a polícia tenha aceitado a hipótese do suicídio, o sumiço é um mistério até hoje não esclarecido. No livro “Majorana desapareceu”, tema de minha coluna desta semana na revista Época, o escritor, jornalista e político italiano Leonardo Sciascia formulou sua teoria para o desaparecimento de Majorana. De acordo com a versão de Sciascia, Majorana descobrira o poder destrutivo do átomo e, num movimento místico, decidira rejeitar a ciência e, incógnito, isolar-se num convento siciliano.
Ao longo de sua vida, Sciascia ficou conhecido pelo combate à Máfia e à corrupção. Desempenhou um papel importante nas investigações a respeito do assassinato do premiê Aldo Moro por terroristas das Brigadas Vermelhas, em 1978. Não viveu para ver a Operação Mãos Limpas, inspiração da nossa Lava Jato. Conhecia a dificuldade de mudar hábitos corruptos arraigados há séculos.

Na Itália, a Mãos Limpas abriu caminho para a ascensão de Silvio Berlusconi, depois envolvido em escândalos ainda maiores. Não sabemos ainda o que acontecerá depois da Lava Jato. Tudo dependerá de como lidaremos com as descobertas sobre as relações espúrias entre as empresas e o Estado. E da nossa capacidade de, como o Majorana de Sciascia, mudar depois de conhecer de perto aquilo de que apenas suspeitávamos. A prisão não é um convento. Mas também oferece a João Santana uma oportunidade de refletir sobre o que fazer com as verdades atômicas que conhece

Um comentário:

  1. E eu me pergunto: O que fazer com as verdades atômicas que conheci ao longo de uma jornada inglória pelos corredores e escaninhos inferiores e superiores do Tribunal de Justiça de Minas Gerais? O que fazer com as que conheci no âmbito da "política municipal"e do "Fórum da Justiça" de Raul Soares?

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