POR MÍRIAM
LEITÃO
20/10/2015 08:23
A presidente Dilma fez um favor a si mesma ao desautorizar o presidente
do PT, Rui Falcão. Depois das atitudes do ex-presidente Lula, só faltava mesmo
uma entrevista como a de Falcão para enfraquecer mais o governo. Ele disse que
Levy pode ir embora caso não aceite mudar a política econômica. Se Dilma nada
falasse, estaria fora da Presidência. Teria terceirizado o governo à dupla
Lula-Falcão.
O presidente do PT faria um favor a si mesmo se estudasse um pouco mais
os temas sobre os quais quer opinar. Ele deu, na entrevista à “Folha de S.
Paulo”, dois exemplos de mudanças que o ministro Levy teria que aceitar:
redução da taxa de juros e liberação do compulsório dos “bancos privados”.
Juros e compulsório são temas exclusivos do Banco Central. Se quiser
exigi-los, o PT deve se dirigir ao BC e não à Fazenda. Falcão quer impor a Levy
o que está na alçada de Alexandre Tombini. Outra informação para ajudar Falcão
na próxima vez que quiser ditar os rumos da política econômica: não existe
“compulsório de banco privado”. Existe compulsório. De todos os bancos. É o
percentual dos depósitos em conta-corrente e em aplicações que deve ser
recolhido ao BC. Não se estabelece níveis diferentes para bancos públicos e
privados. Não teria cabimento.
A presidente, ao desautorizar Falcão, e assim salvaguardar a
prerrogativa dela, estava preenchendo uma lacuna que ficou aberta na
sexta-feira e atravessou todo o fim de semana. Após a boataria sobre a queda do
Levy, ele negou que estivesse de saída, mas do Palácio do Planalto não se ouviu
qualquer defesa. Como sempre acontece com Levy, ele tem que defender a si
mesmo, porque o governo não o defende. Isso costuma ser entendido como sinal de
desprestígio. E é.
Tudo continua mal parado, e, mesmo com o desmentido da presidente, a
situação do ministro da Fazenda permanece frágil. O ex-presidente Lula continua
operando pela substituição dele por outro. Um dos nomes que circula é o do
ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, hoje na direção do grupo
J&S, holding do JBS Friboi, o controvertido grupo que tanta ajuda recebeu
do BNDES para o seu crescimento nos anos petistas. Meirelles fez um bom
trabalho no Banco Central, e Lula agora sonha em chamá-lo de volta. O problema
é que Henrique Meirelles não aceitou interferência na política monetária. No
cargo de ministro da Fazenda, ele tende a ter o mesmo comportamento. Caso
altere drasticamente sua forma de pensar e agir, perderá a credibilidade que
conquistou.
O PT continua com sua cruzada. O problema é que ela parece sem rumo. No
fim de semana, o presidente do partido se reuniu com o ministro Nelson Barbosa.
E, ontem, respondendo à presidente, refez suas críticas à política econômica. O
encontro com Barbosa no meio da saraivada de críticas fica mal. Para o ministro
do Planejamento.
A presidente, que está bem falante desde que chegou em terras
escandinavas, repetiu que o Brasil tem apenas problemas conjunturais e não
estruturais. Antes fosse. É natural que ao falar para potenciais investidores a
presidente queira infundir confiança. Mas adianta pouco tapar o sol com a
peneira. O Brasil tem tamanho e importância suficientes para ser um caso
conhecido. Nossos indicadores não são ignorados por bancos ou instituição
multilateral. E os dados mostram deterioração forte de todos os fundamentos. O
superávit primário despencou, a dívida disparou, o déficit nominal está em
nível insustentável, o governo não consegue aprovar no Congresso nenhuma medida
que aponte para melhoras nos dados do país no médio prazo.
Se a presidente estivesse dizendo isso apenas para sueco ver, tudo bem.
Mas ela já falou no Brasil que nossos problemas são apenas conjunturais.
Infelizmente, temos problemas estruturais gravíssimos. Um governo que cobra dos
contribuintes 36% do PIB ao ano em impostos e que, mesmo assim, está com 9% de
déficit nominal tem problemas sérios. E a solução proposta é mais imposto. E aí
há um raro ponto de concordância de Rui Falcão com a política econômica. Disse
que a CPMF é o plano A, B e C do governo. A presidente Dilma deve pensar
rapidamente no plano D, porque o Congresso, pelo visto, não aceita o novo
imposto.
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