
O físico italiano Ettore Majorana
sempre fascinou o marqueteiro João Santana, preso na semana passada pela
Operação Lava Jato (foto). “Tenho uma relação misteriosa e cotidiana com ele”,
disse João Santana sobre Majorana, num perfil publicado em 2013 pela revista
Época. Majorana foi uma mente genial, capaz de compreender a estrutura do
núcleo atômico antes do alemão Werner Heisenberg, embora um misto de modéstia e
timidez o tivesse impedido de publicar o resultado. Seu mentor e professor, o
também italiano Enrico Fermi, o considerava um gênio à altura de Galileu
Galilei, Isaac Newton ou mesmo Einstein. Majorana também é um mistério
insolúvel.
Em março de 1938, ele sumiu
depois de comprar uma passagem de barco de Palermo, na sua Sicília natal, a
Nápoles, onde fora recentemente contratado para lecionar física na
universidade. Embora a polícia tenha aceitado a hipótese do suicídio, o sumiço
é um mistério até hoje não esclarecido. No livro “Majorana desapareceu”, tema
de minha coluna desta semana na revista Época, o escritor, jornalista e
político italiano Leonardo Sciascia formulou sua teoria para o desaparecimento
de Majorana. De acordo com a versão de Sciascia, Majorana descobrira o poder
destrutivo do átomo e, num movimento místico, decidira rejeitar a ciência e,
incógnito, isolar-se num convento siciliano.
Ao longo de sua vida, Sciascia
ficou conhecido pelo combate à Máfia e à corrupção. Desempenhou um papel
importante nas investigações a respeito do assassinato do premiê Aldo Moro por
terroristas das Brigadas Vermelhas, em 1978. Não viveu para ver a Operação Mãos
Limpas, inspiração da nossa Lava Jato. Conhecia a dificuldade de mudar hábitos
corruptos arraigados há séculos.
Na Itália, a Mãos Limpas abriu
caminho para a ascensão de Silvio Berlusconi, depois envolvido em escândalos
ainda maiores. Não sabemos ainda o que acontecerá depois da Lava Jato. Tudo
dependerá de como lidaremos com as descobertas sobre as relações espúrias entre
as empresas e o Estado. E da nossa capacidade de, como o Majorana de Sciascia,
mudar depois de conhecer de perto aquilo de que apenas suspeitávamos. A prisão
não é um convento. Mas também oferece a João Santana uma oportunidade de
refletir sobre o que fazer com as verdades atômicas que conhece
E eu me pergunto: O que fazer com as verdades atômicas que conheci ao longo de uma jornada inglória pelos corredores e escaninhos inferiores e superiores do Tribunal de Justiça de Minas Gerais? O que fazer com as que conheci no âmbito da "política municipal"e do "Fórum da Justiça" de Raul Soares?
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